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O Hospital Universitário da USP vai acabar em mãos privadas? Reação da comunidade universtária faz com que na reunião desta terça-feira 26, o Conselho Universitário da USP retire de pauta discuss&ati

30 de Agosto de 2014 às 16:56:30




foto Valéria-003Milton de Arruda Martins

A médica infectologista Valéria Cassettari e o professor Mílton de Arruda Martins

por Conceição Lemes





A Universidade de São Paulo vive uma grave crise, inclusive financeira.

O seu reitor, o professor Marco Antônio Zago, há cerca de dez dias decidiu propor a desvinculação do Hospital Universitário da USP, passando-o para a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP).

Lamentável.

Primeiro, o HU, como é conhecido, é um hospital realmente modelo.

Segundo, a proposta não foi sequer discutida com os professores, pesquisadores, alunos e funcionários que lá atuam.

Terceiro, se a proposta do reitor é passar o HU para a SES-SP,  o assunto foi discutido com David Uip, secretário de Estado da Saúde e professor da USP.

Diria até que a proposta é do próprio Uip.

Uip, assim como os seus antecessores na SES-SP, defende que a gestão dos hospitais públicos estaduais seja transferida para Organizações Sociais de Saúde (OSs).

Tanto que boa parte deles está nas mãos de OSs. Em português claro: privatização. É o estilo tucano na saúde.

Será que a intenção é, num primeiro momento, passar o HU para a Secretaria de Estado da Saúde e depois para alguma OSs,privatizando a sua gestão?

Abaixo dois comentários lúcidos, bastante elucidativos, sobre a proposta do reitor Zago.

Professor Mílton de Arruda Martins, no Facebook

Sobre a proposta do Reitor da USP de desvincular o Hospital Universitário da Universidade de São Paulo: sou contrário. Não é possível tomar uma decisão dessa importância sem antes fazer um estudo detalhado das alternativas e discutir amplamente essa questão.

Em 1972, eu era calouro e passei em minha classe um abaixo-assinado, redigido pela diretoria do CAOC, pedindo que o HU fosse construído! Esse abaixo-assinado gerou grande polêmica, porque havia colegas de todos os anos da FMUSP que acreditavam que o HU iria nos tirar o HC como hospital de ensino!

Estávamos certos. Para fazer curta uma história de mais de 40 anos, o HU foi construído e tornou-se um hospital modelo, para atenção à saúde de uma comunidade determinada (comunidade da USP e moradores do Butantã), ensino de graduação de várias profissões da saúde e posteriormente de médicos residentes.

Passou, também, a abrigar um dos projetos de pesquisa mais importantes do país, considerando sua relevância para a saúde pública, o ELSA (Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto). Tornou-se um modelo de hospital secundário de ensino para o país.

A experiência do HU, por exemplo, foi apresentada em vários congressos da Associação Brasileira de Educação Médica.

Conheço várias faculdades de Medicina brasileiras que passaram a utilizar hospitais com características muito semelhantes, mais de 20 anos após a experiência pioneira do HU. A Escola Paulista passou a utilizar o Hospital de Vila Maria e a UNICAMP o hospital de Sumaré.

A USP está atravessando séria crise e com ela, o HU. Mas as soluções devem ser discutidas de forma ampla, com participação de todos, com transparência e avaliando todas as alternativas possíveis, mas garantindo as características do HU que fizeram dele um modelo para todo o país.

Mílton de Arruda Martins Professor Titular de Clínica Médica

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Valéria Cassettari, no Facebook

Amanhã dia 26/8 às 14h00 o Magnífico Reitor da USP Marco Antonio Zago levará ao Conselho Universitário, sabe-se lá se por algum interesse muito especial ou por um conjunto de interesses, a proposta de desvinculação do Hospital Universitário, que passaria assim para gestão da Secretaria da Saúde, tornando-se mais um dos inúmeros hospitais estaduais reconhecidos pela precariedade.

O assunto é longo e eu agradeço ao autor do texto abaixo, docente da FAU, por conseguir traduzir em palavras a minha indignação e a dos meus colegas profissionais do HU, que nos dedicamos há anos (no meu caso, 14) à formação dos novos médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas e demais da área de saúde e também ao atendimento à população, oferecendo a formação e atendimento em medicina geral DA MELHOR QUALIDADE E COM TODA A DEDICAÇÃO, embora a imagem veiculada seja a de marajás improdutivos que oneram os cofres da Universidade.

Nada mais falso e oportunista. Até amanhã ainda prefiro acreditar que os diretores das unidades da USP usarão de toda sua habilidade e sabedoria para rejeitar essa proposta absolutamente infame, de destruir o patrimônio humano da Universidade de São Paulo, construído ao longo de muitos, muitos anos.

Valéria Cassetari é médica infectologista do HU/USP. Trabalha no pronto-socorro, onde atua como clínica geral. É também a responsável pelo controle de infecção hospitalar da instituição

PS do Viomundo: Na reunião desta terça-feira 26, o Conselho Universitário da USP decidiu tirar a desvinculação do HU da pauta por 30 dias.