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Unidade da UFSM é exemplo de expansão mal planejada

30 de Setembro de 2014 às 16:47:52

A Unidade Descentralizada de Educação Superior de Silveira Martins (Udessm), que integra a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, pode ser fechada pela reitoria da instituição por inviabilidade de manutenção. A notícia, cujo desfecho depende de um estudo técnico sobre a viabilidade da unidade encomendado pela UFSM à Fundação Getúlio Vargas (FGV), vem mexendo com a comunidade acadêmica da cidade de 2500 habitantes, localizada a poucos quilômetros de Santa Maria.

A Seção Sindical dos Docentes da UFSM (Sedufsm - Seção Sindical do ANDES-SN) acompanha o caso de perto e tem realizado reuniões periódicas com os docentes da Udessm e com a reitoria para discutir as saídas para o caso. Adriano Figueiró, presidente da Sedufsm, afirma que o sindicato solicitou os resultados preliminares da pesquisa à reitoria, mas até o momento não obteve resposta. Apesar da falta de dados, é possível perceber o tamanho do problema ao saber que há menos de 200 estudantes matriculados na Udessm, quando o total de vagas ofertadas para o período foi de praticamente 550.

Figueiró também aponta que a unidade encontra sérios problemas de estrutura. "A Udessm foi instalada em um colégio antigo. A reforma começou em 2010, mas ainda não foi concluída. Também está sendo construído um prédio em Silveira Martins pela UFSM, mas a obra está na metade", diz o professor. Segundo Adriano, isso faz com que muitas salas da Udessm estejam bloqueadas pelas obras. Além disso, os docentes da unidade reclamam por não ter um local adequado para almoço.

Outro problema enfrentando pela comunidade acadêmica da Udessm é o do transporte. Para os que vão de Santa Maria a Silveira Martins todos os dias para lecionar, estudar ou trabalhar, há raras opções de transporte público. Adriano Figueiró ressalta que a partir de 2014 a situação melhorou, com o advento de um ônibus da UFSM que faz o trajeto entre a sede e a Udessm. No entanto, ainda falta transporte público no período da tarde para aqueles que voltam a Santa Maria depois das aulas.

As saídas possíveis

Segundo o presidente da Sedufsm, a reitoria da UFSM se reunirá com o sindicato e com a comunidade acadêmica depois de terminado o estudo da FGV. Entre as possibilidades de saída para os problemas enfrentados na Udessm estão a absorção dos cursos no campus de Santa Maria, caso seja constatada a viabilidade da manutenção dos cursos. Se a FGV apontar a inviabilidade, a possibilidade é de absorção dos docentes da unidade no campus de Santa Maria e a garantia de conclusão do curso para os estudantes.

"O que os professores de Silveira Martins nos afirmam é que eles estão cansados de experimentar. Eles querem é poder trabalhar, lecionar, pesquisar, praticar extensão com tranquilidade, qualidade e boas condições de trabalho", afirma Adriano Figueiró. A reitoria afirmou à Sedufsm que a FVG deve entregar o estudo de viabilidade até o meio do mês de outubro.

A posição dos docentes da Udessm

A maior reivindicação dos professores lotados em Silveira Martins, apresentada em uma reunião com a Sedufsm, é que eles sejam ouvidos antes da tomada de decisão sobre o que será feito da Udessm. Conforme o relato do professor Marcelo Ribeiro, coordenador do curso de Gestão em Turismo, e que é um dos dois participantes da unidade na comissão da UFSM que discute os problemas e viabilidade da Udessm, a FGV deverá apresentar dois relatórios ao longo do mês de outubro.

Contudo, a partir do que já foi levantado em termos de dados, o diagnóstico é bastante pessimista. Três questões são cruciais na análise da consultoria: a baixa procura por parte dos estudantes, o alto número de evasão e as dificuldades de infraestrutura do local (não há restaurante universitário ou casa de estudante, por exemplo). Atualmente, a Udessm possui um quadro de 27 professores e pouco mais de 200 alunos. A orientação para que seja feita uma análise da viabilidade dos cursos teria partido do Ministério da Educação.

Expansão foi mal planejada

A Udessm se insere em um contexto mais amplo, que passa por várias universidades federais, de precarização das condições de trabalho e de estrutura a partir de uma expansão mal planejada. A unidade foi criada no primeiro semestre do ano de 2009 a partir do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Mas o debate, cinco anos depois, sobre a possibilidade de fechamento da unidade por inviabilidade demonstra, novamente, a falta de planejamento do Reuni.

"Não éramos e não somos contra a expansão das universidades federais. Mas somos contra o método que foi utilizado. Eles quiseram primeiro criar os cursos, abrir o vestibular, e depois dar um jeito, ir levando. Isso se mostrou, tendo a Udessm como exemplo, como um método falho. E isso não ocorreu somente em Silveira Martins, mas também em Frederico Westphalen e Palmeira das Missões [campi da UFSM], que apresentam problemas semelhantes", diz Adriano Figueiró. O presidente da Sedufsm cita o exemplo da criação do novo campus da UFSM na cidade de Cachoeira do Sul como positivo, ao contrário da Udessm. "Dessa vez houve a preocupação em começar com estrutura adequada. É um avanço", conclui o docente.

*Com informações de Sedufsm-SSind.

*Fotos de Iuri Muller (2010)