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O feriado que foi negado pela Unicentro

20 de Novembro de 2013 às 01:45:33

Os 103 anos da Revolta da Chibata e o Dia da Consciência Negra



Há exatos 103 anos, um grupo de marinheiros negros dava início a uma das maiores revoltas da nossa história, para combater os açoites praticados pela Marinha do Brasil contra seus oficiais. Apesar de proibida desde 1889, com a publicação do Decreto Presidencial n°3, o uso da chibata continuou a ser uma prática comum para castigar e humilhar os oficiais e marinheiros negros.

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Conscientes de seu papel social e dos direitos que a lei lhes garantia, um grupo de marujos liderados por João Cândido protagonizou muito mais do que uma luta contra a chibata, e sim uma batalha contra toda forma de opressão e violência que era comum nos navios brasileiros contra marinheiros negros. Porém, esta batalha não estava restrita aos navios, ela se estenderia para fora do convés do encouraçado Minas Gerais e de outros cruzadores, fazendo com que toda população da cidade do Rio de Janeiro, naquele novembro de 1910, tomasse conhecimento do que vinha ocorrendo com os marinheiros negros.

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O que os marinheiros fizeram em 1910 foi perceber que a consciência é fruto da própria realidade histórica concreta na qual se encontram, e foram capazes de modificar não só a sua própria história, mas também parte da história do Brasil, tão bem retratada na canção o Mestre Sala dos Mares, de João Bosco e Aldir Blanc, ao lembrar da glória a todas as lutas inglórias, que através da nossa história não esquecemos jamais e salve o navegante negro, que tem por monumento as pedras pisadas do cais.

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As pedras pisadas do cais guardam uma parte considerável da nossa história, da luta de João Cândido, dos marinheiros negros que lutaram contra a opressão e violência naquele novembro de 1910 e que, mesmo depois do fim da revolta, com dezenas de marinheiros mortos e outros presos, não recuaram da luta pelo fim de toda forma de opressão, tão presente naquele ano de 1910 no Brasil.

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Somente em 2008 João Cândido seria anistiado pelo governo brasileiro pela participação na Revolta da Chibata, ou seja, 98 anos

depois da luta contra o uso da chibata e 39 anos após a sua morte. No entanto, o navegante negro, a quem a história não esqueceuque tinha a dignidade de um mestre salas do mares, continua vivo na memória dos que lutam contra todas as formas de opressão e violência.

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Retomei neste artigo a luta de João Cândido, que em um novembro também lutou por um direito garantido em lei, como no caso do dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, feriado municipal em Guarapuava. Feriado que não foi dado, mas conquistado ao longo da nossa história, como fruto da luta de milhares de mulheres e homens que aqui estudam, trabalham, vivem, sonham e têm o direito de, no dia 20 de novembro, parar suas atividades, como João Cândido parou o encouraçado Minas Gerais, para discutir o papel da consciência que transforma e que modifica a realidade histórica, de lutar contra toda forma de opressão e preconceito, de construir uma nova sociedade onde, de fato, todos sejam iguais perante a lei. Neste caso, a lei deve valer para todos, das fábricas às universidades.

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Prof. Dr. Hélvio Alexandre Mariano

Departamento de História da Unicentro - Guarapuava


Fonte: Jornal Diário de Guarapuava