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Retrocesso na UEPG. Universidade anuncia o fim das cotas para afrodescendentes como se oito anos fossem suficientes para corrigir quase 500 anos de sucessivos erros e desinteresse na integração racial do país. Segundo o censo do IBGE,

28 de Novembro de 2013 às 23:50:47


Acabar com as cotas raciais agora é desperdiçar uma chance histórica







UEPG




A Universidade Estadual de Ponta Grossa anunciou o fim das cotas para afrodescendentes. Praticou a política de ação afirmativa durante oito anos,conforme estava previsto na resolução inicialmente adotada pela instituição, e agora considera a missão cumprida. A partir do ano que vem, a distinção por etnia não será mais levada em conta.

Por um lado, a ideia de que as cotas devem ser temporárias faz sentido. É claro que, se a ideia é corrigir os problemas históricos, não se pode esperar que isso dure para sempre. Ou seja: as cotas não estão lá para dar permanentemente "vantagem" a alguém, nem estão lá porque se acredita que há uma incapacidade de alguém que só seria aceito em caso de "ajuda".

O sistema de cotas serve para corrigir distorções. No caso das cotas raciais, para corrigir erros históricos, abusos cometidos contra uma etnia que foi escravizada e, depois, vítima de eterno preconceito e de desvantagens políticas e sociais no Brasil. Assim, se o erro é histórico, a solução tem de ser também temporária: até que as distorções se corrijam.

No entanto, acreditar que oito anos são suficientes para corrigir um erro desse tamanho e que durou, no mínimo, cinco séculos, é uma afirmação leviana, quase de mau gosto. É óbvio que, apesar de ter dado chance a alguns que estariam de outra forma excluídos, o sistema ainda não colocou os negros em pé de igualdade com os demais candidatos. Seria necessário um tempo muito maior para que a solução fosse real, e não apenas algo destinado a mitigar o peso na consciência de alguém.

Acabar com as cotas agora, quando finalmente se conseguiu, por meio de diálogo, de construção histórica, de negociação, instaurá-las apesar de todo o preconceito vigente no país, é negar a política de inclusão que elas representam.

Rogerio Waldrigues Galindo

Fonte: Jornal Gazeta do Povo