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Mobilização barra manobra que tentava aprovar Ebserh em reunião fora da UFF

21 de Janeiro de 2016 às 18:14:57

A Universidade Federal Fluminense (UFF) em Niterói possui cerca de dez auditórios plenamente capacitados para receber o Conselho Deliberativo do Hospital Universitário Antonio Pedro (Huap). Entretanto, a direção do hospital optou por chamar uma reunião extraordinária do Conselho – convocada às pressas no dia 19 e a ser realizada na manhã desta quinta-feira (21) – no anfiteatro da Procuradoria Federal, fora das dependências da universidade e do hospital universitário. Embora a convocatória não mencionasse a pauta do encontro, a campanha conduzida pelo reitor da Universidade, Sidney Mello, e pelo diretor do Huap, Tarcísio Rivello, não deixava dúvidas: o objetivo era aprovar o contrato de privatização do Huap por meio da adesão à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).


Contudo, a manobra, que já foi utilizada com sucesso em outras universidades do país, não deu certo.  Às 7h desta quinta-feira, estudantes, técnico-administrativos e docentes da UFF faziam vigília em frente ao prédio da Procuradoria, denunciando o método antidemocrático utilizado pela direção do hospital e da administração da UFF para tentar impor, sem debate algum com a comunidade acadêmica, a aprovação da Ebserh - que traz consigo uma política de privatização do hospital e o fim da autonomia universitária. Após horas de negociação e ato, a reunião foi suspensa.


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“A suspensão da reunião foi uma vitória da nossa mobilização. O reitor da universidade e o diretor do [HU] Antonio Pedro não são os donos do hospital universitário, ele pertence à universidade e à população. Não permitiremos nenhum golpe, iremos onde quer que marquem reunião para exigir um amplo debate com a comunidade acadêmica, com usuários e trabalhadores do hospital sobre o que significa a Ebserh. O diretor mente quando fala que será um choque de gestão. Ebserh é cessão do hospital, significa que o hospital sairá da universidade. Isso não iremos permitir! O hospital é da UFF, é da sociedade. Não abriremos mão da saúde pública e da educação de qualidade”, ressaltou a diretora do Sindicato dos Servidores da UFF (Sintuff) e integrante do Conselho Deliberativo do Huap, Lígia Martins.


O grande efetivo policial nos arredores do prédio, no centro de Niterói, – inclusive com policias militares armados com fuzil e integrantes da Polícia Federal – já denunciava que se a reunião acontecesse, provavelmente seria realizada a portas fechadas e sem a participação da comunidade acadêmica e dos usuários do Huap.


“O objetivo principal dessa mobilização é a defesa da democracia universitária, da gestão participativa. Queremos que a comunidade acadêmica continue definindo como deve ser a assistência à saúde, o ensino, a pesquisa e a extensão no Antonio Pedro e em toda a universidade. E é justamente isso que a Ebserh e todas essas propostas privatistas querem romper, querem impedir o debate democrático. Escrevem no papel que os conselhos vão manter suas funções participativas, mas olha a prova! Olha onde está sendo realizado o conselho do hospital. Por que não está sendo realizado no auditório, onde nós tentamos por diversas vezes fazer o debate e os gestores da universidade e do hospital se retiraram, alegando ‘falta de quórum’? Como se para fazer debate precisasse de quórum. Enquanto isso, realizam conversas na surdina, em fóruns privados ”, criticou o vice-presidente da Associação dos Docentes da UFF (Aduff – Seção Sindical do ANDES-SN), Gustavo Gomes.


A secretária-geral do ANDES-SN e professora do Instituto de Saúde Coletiva da UFF, Claudia March, também participou do ato e falou contra a privatização do hospital universitário. “É mentira que é possível fazer um contrato onde não há privatização, é mentira que é possível fazer um contrato onde nós vamos ter controle sobre o que vai acontecer lá dentro. A verdade é que a lei é uma só, a Ebserh é uma só. É uma empresa pública de direito privado que tem um objetivo: a obtenção de lucros. Já perdemos muito com o fechamento de leitos do Antonio Pedro, fechamento provocado para criar uma crise para colocar a Ebserh dentro do hospital. E podemos perder muito mais; não só os leitos públicos, mas a formação de qualidade de médicos, enfermeiros, nutricionistas, odontólogos e assistentes sociais e todos que ali estudam para atender à população com dignidade. Por isso, esse hospital ou nenhum outro deve ser privatizado”, finalizou.


Conselho Universitário


Na próxima quarta-feira (27), a Ebserh volta a ser ponto de pauta, dessa vez na reunião do Conselho Universitário (CUV). É provável ainda que o Conselho Deliberativo do Huap seja convocado antes da realização do CUV. A Aduff-SSind convida os docentes e toda a comunidade acadêmica a participar das reuniões e a pressionar para que haja debate real sobre o assunto. A entidade defende a busca de soluções para a crise no HU que se oponham à terceirização e à privatização, que defendam a gestão pública e cobrem do governo os recursos que ele tem a obrigação de assegurar para a universidade e a saúde pública.


Edição de ANDES-SN com imagem de Luiz Fernando Nabuco/Aduff-SSind


Fonte: Aduff-SSind


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