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Unespar garante uso do nome social a estudantes

03 de Março de 2016 às 13:37:15

A partir deste mês os estudantes da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) podem solicitar o uso do nome social nos registros acadêmicos. A medida é um direito que está garantido por meio de resolução assinada e publicada, nesta semana, pela reitoria da instituição.


Segundo o reitor, professor Antonio Carlos Aleixo, a decisão tem como base o respeito à identidade de gênero dos estudantes da comunidade universitária e beneficia transexuais e travestis. “Somos contra qualquer tipo de constrangimento, estigma, preconceito e violência. Por isso, acreditamos que com o documento vamos ajudar a combater preconceitos e preconceituosos, bem como construir uma cultura de respeito, diversidade, inclusão social e democracia”, argumenta.


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Entende-se por nome social, o modo como uma pessoa é reconhecida, identificada e denominada na comunidade e no meio social em que está inserido. De um modo geral, ele é utilizado para substituir o nome dos documentos oficiais que não refletem a identidade de gênero da pessoa.


Na Unespar, o nome social será exibido em documentos de uso interno, como diários de classe, fichas e cadastros, formulários, listas de presença, divulgação de notas e resultados de editais, tanto os impressos quanto os emitidos eletronicamente pelo sistema oficial de registros e controle acadêmico.


Aleixo salienta que a decisão é um reflexo da política institucional que visa à inclusão e o respeito aos direitos de liberdade de expressão e de manifestações de gênero. Para isso, expõe ainda, que a resolução se orienta em documentos federais. “Consideramos artigos e incisos da Constituição Federal que estabelecem garantias fundamentais a cidadania, dignidade da pessoa humana, promoção do bem de todos e todas sem preconceitos, a igualdade perante a lei, entre outros documentos e leis”, exemplifica.


Como solicitar – Alunos e alunas da Unespar interessados em fazer uso do direito devem solicitar a inclusão ou retirada do nome social no setor de Controle Acadêmico do campus onde está matriculado. Isso pode acontecer a qualquer tempo durante a manutenção do vínculo com a universidade. Para menores de 18 anos, o pedido de inclusão precisa de uma autorização, por escrito, dos pais ou responsáveis legais.


A resolução também prevê a possibilidade de conceder o direito ao uso do nome social a estudantes que não se enquadrem na questão de identidade gênero, mas que possuam nome oficial que os exponham a constrangimento. Nesse caso, o nome social pode diferir do nome oficial apenas no prenome, exceto quando a razão que motivou a concessão do direito de uso do nome social for relacionada a sobrenomes. Para isso, caberá análise e parecer do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE).


Evasão – Além do respeito às questões de gênero, um problema que a Unespar pretende evitar são os casos de evasão de pessoas trans. O reitor enfatiza que é interesse da universidade que todos os estudantes iniciem e concluam os cursos. Da mesma forma, quer a instituição como um espaço de acolhida para as pessoas.


O transexual, Bernardo Lucas Ribeiro, iniciou o curso de Letras habilitação em Língua Portuguesa, no campus de Apucarana, em 2014. Questões relacionadas à identidade de gênero fizeram com que ele abandonasse o curso no ano seguinte. “Fiquei um ano fora tentando me restabelecer enquanto pessoa. Não conseguia, por exemplo, me sentir dentro do ambiente da universidade”, lembra. Ele conta que chegou a tentar o uso do nome social, porém ainda não existia regulamentação que autorizasse a mudança.


Decidido a concluir o curso, Bernardo retorna aos bancos da Unespar neste mês, para o início do novo ano letivo. A possibilidade de utilizar, a partir de agora o nome social, é um incentivo a mais. “O nome é o elo que liga você e a sociedade em geral. Esse direito é uma coisa básica de quem quer ser reconhecido como é enquanto pessoa. Quando as pessoas vêem que existe o direito, elas tentam utilizá-lo. Quero que as pessoas trans tenham a mesma chance que eu de estar no Ensino Superior, sair da marginalidade e da invisibilidade”, expõe.


A UEM adotou a utilização do nome social em 2012 e a Unicentro em 2015.


 


Fonte: UNESPAR


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