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Caça ao “dinheiro perdido” pode render dezenas de bilhões à Previdência

25 de Agosto de 2016 às 09:10:05

O governo prepara uma reforma para adiar as aposentadorias, mas ações pelo lado da arrecadação também ajudariam a melhorar as contas da Previdência Social, ainda que não revertam todo o déficit do sistema.


Revisão de desonerações, combate à sonegação e um reforço na cobrança de dívidas estão entre as medidas que acrescentariam dezenas de bilhões de reais à receita anual do INSS, segundo centrais sindicais, consultores legislativos e especialistas em direito previdenciário.


Como a Previdência pode arrecadar mais e gastar menos


As renúncias fiscais vão tirar da Previdência cerca de R$ 56 bilhões em 2016, valor equivalente a mais de um terço do déficit do INSS, estimado em R$ 145 bilhões pelo governo. Uma das principais é a desoneração da folha de pagamentos, que foi criada em 2012 e, mesmo tendo sido revisada em 2015, custará quase R$ 16 bilhões neste ano, pelos cálculos da Receita Federal.


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Embora a renúncia da folha não afete tanto o INSS, que nesse caso é ressarcido pelo Tesouro, o fim do benefício aliviaria a pressão sobre o conjunto das contas públicas. Também deveriam ser revistas, segundo as centrais sindicais, as isenções a entidades filantrópicas e às exportadoras do setor agrícola, que devem somar R$ 18 bilhões neste ano.


Sonegação


O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que assessora os sindicatos, avalia que a melhora da fiscalização da Previdência e do Ministério do Trabalho poderia reduzir pela metade a sonegação da contribuição previdenciária, o que acrescentaria R$ 23 bilhões à arrecadação anual.


SAIBA MAIS sobre as regras da aposentadoria e a reforma da Previdência


“O número de fiscais caiu na última década, porque o governo não repôs os que se aposentaram. Além disso, é muito baixa a multa para quem emprega trabalhador sem registro em carteira, o que cria uma vantagem econômica para os mal-intencionados”, diz Clóvis Scherer, economista do Dieese.


Dívida


Outro valor que chama atenção é o da dívida que o INSS tem a receber. São R$ 375 bilhões, dos quais R$ 100 bilhões têm chance média ou alta de recuperação, por serem devidos por empresas que estão em funcionamento e têm patrimônio para saldar os débitos, segundo o Dieese.


As centrais propõem a criação de um “Refis”, ou seja, um programa de refinanciamento, para recuperar esses valores. As consultorias de Orçamento do Congresso têm outra sugestão: a cobrança administrativa da dívida. O impacto no primeiro ano, calculam, seria de aproximadamente R$ 18 bilhões, podendo chegar a R$ 226 bilhões em dez anos.


“A cobrança judicial entope a Justiça e pouca coisa é recuperada, pouco mais de 1% do estoque da dívida ativa”, diz o consultor legislativo Leonardo Rolim. Ele cita como exemplo de cobrança administrativa a contratação do Banco do Brasil, pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), para cobrar dívidas rurais de pequeno valor.


“A PGFN não iria ajuizar ação porque o custo seria maior que o valor a receber. E o banco, com um cadastro enorme, localizou os devedores, ligou, mandou carta. E conseguiu recuperar quase 20% do devido”, explica.


Confira algumas possibilidades para aumentar a arrecadação da Previdência


Auditoria da Dívida Pública


Redação confusa


Uma forma de proteger a arrecadação previdenciária é reescrever normas previstas em lei ou na própria Constituição, sugere Jane Berwanger, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário (IBDP): “A redação confusa de algumas normas deixa margem a interpretações diversas, e com isso muitas empresas conseguem, na Justiça, reaver o que pagaram”.


Desvinculação


Para reforçar o caixa do INSS, as centrais sindicais propõem o fim da Desvinculação das Receitas da União (DRU), dispositivo que permite ao governo usar onde quiser 20% das receitas da Seguridade Social. O impacto seria de R$ 61 bilhões ao ano, dizem os sindicalistas. Mas no fim o efeito da medida sobre o caixa da União seria nulo: ainda que use receitas da Seguridade em outras áreas, depois é o próprio Tesouro quem cobre o rombo do INSS.


Jogos de azar


Outro recurso que pode reforçar o caixa da Previdência viria da regularização de bingos e jogos de azar. Projeto que tramita no Senado prevê uma contribuição social de 10% para jogos em ambiente físico e 20% para jogos on-line, que seria repassada à Seguridade Social. “Se o dinheiro tiver esse destino, não tenho objeção. Regularizar os bingos causa menos mal que cortar benefícios”, diz Jane Berwanger, do IBDP.




De bilhão em bilhão


Uma série de medidas sugeridas por centrais sindicais e especialistas poderia melhorar as contas da Previdência Social.


Como arrecadar mais e gastar menos



Observações



  1. A Desvinculação das Receitas da União permite ao governo usar parte da arrecadação da Previdência em outras áreas

  2. Estimativa das centrais sindicais e do Dieese

  3. Estimativa das Consultorias de Orçamento do Congresso

  4. Valor estimado da renúncia fiscal em 2016

  5. A Previdência é ressarcida pelo Tesouro dessa desoneração. Mas a extinção da renúncia aliviaria o conjunto das contas públicas

  6. Revisar benefícios concedidos pela Justiça e aposentadorias por invalidez, integrar programas públicos para a reabilitação profissional, auditar benefícios rurais e obrigar médicos peritos a comparecer em audiências na Justiça

  7. Sugestões da equipe do ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa


Mão aberta


Nos últimos anos, o governo abriu mão de dezenas de bilhões ao reduzir a contribuição previdenciária de diversos setores. E a dívida que a Previdência tem a receber (mas não consegue) aumentou rapidamente.



 


Fonte: Gazeta do Povo, com edição da Adunicentro