Notícias

Mesmo com Dilma e Papa, trabalhadores continuam nas ruas em protestos

25 de Julho de 2013 às 00:46:28

Na tarde de segunda-feira (22), dia da chegada do Papa Francisco ao Rio de Janeiro em razão da 26° Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Católica, estudantes, sindicatos e movimentos sociais voltaram às ruas para denunciar os gastos públicos milionários com os grandes eventos na cidade, as remoções arbitrárias da população que mora nos entornos de onde serão realizados os megaeventos e a truculência da Polícia Militar do governador Sérgio Cabral, tanto nos protestos recentes como nas favelas cariocas.
Convocado pela CSP-Conlutas, o ato procurou dialogar com os participantes da JMJ que visitam a cidade. Os manifestantes que saíram do Catete, em direção ao Largo do Machado, exigiram a desmilitarização da PM, o fim das  remoções e das privatizações no setor público e a defesa intransigente da saúde e educação públicas, gratuitas e de qualidade. Alheios à manifestação, a presidente Dilma Roussef, o Governador Sérgio Cabral e o prefeito da cidade, Eduardo Paes, se preparavam para recepcionar o Papa no Palácio Guanabara.

"A nossa luta é todo dia contra o machismo, racismo e homofobia"
A luta contra todos os tipos de opressões também foi um dos motes do ato. Os manifestantes protestaram em favor do aborto e contra o Estatuto do Nascituro (PL 478/07), projeto de lei em trâmite no Congresso Nacional, que prevê uma "bolsa-estupro" para as mulheres sexualmente violentadas que ficarem grávidas e mantiverem a gestação.
"A luta pela legalização do aborto perpassa pelo reconhecimento de que a mulher é a dona de seu próprio corpo, e não o conservadorismo estatal ou o fundamentalismo religioso. Nesse sentido, o Estatuto do Nascituro é um retrocesso", afirmou a estudante de Letras e integrante da Executiva da ANEL, Priscila Branco.
O fim da homofobia também foi uma bandeira levantada no protesto. Nas ruas, os manifestantes gritavam "Fora Feliciano", em referência ao presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o deputado da base governista Marco Feliciano (PSC-SP), reconhecidamente racista e homofóbico, que dentre vários ultrajes e ofensas apoiou o projeto de lei que defendia "a cura gay", mais tarde arquivado pela Câmara.

"Chega de bomba, de caveirão, trabalhador quer saúde e educação"

Presente no ato, Urutau Guajajara, um dos representantes dos povos que ocupavam a Aldeia Maracanã, relembrou o episódio que culminou no despejo dos povos originários do antigo Museu do Índio. "Nós, povos indígenas, negros, pobres, quilombolas não  aguentamos mais esse massacre que já dura 513 anos. Como na época de nossa expulsão - em que Cabral e Paes jogaram bombas em crianças, idosos em mulheres indígenas grávidas - as ações de repressão continuam. Que governo é esse que persegue e mata o próprio povo?", protestou. Guarajara também questionou o papel do governo federal no processo e pediu um pedido de perdão do governo Dilma. "Afinal, o governo é do povo ou representa a especulação imobiliária e o agronegócio?".
Os manifestantes também mostraram indignação com o sumiço de Amarildo de Souza, morador da Rocinha e pai de 6 filhos que  desapareceu, no dia 14 de julho, após ser abordado por policiais da UPP e convidado a comparecer à unidade "de pacificação" para averiguação. A professora Vera Nepomuceno, coordenadora geral do Sindicato dos Profissionais da Educação do Estado do Rio de Janeiro (SEPE-RJ) chamou a ação de vandalismo de Estado. "Cabral chama os manifestantes de vândalos, mas precarizar e privatizar a saúde e a educação não é vandalismo? Perseguir e desaparecer com moradores da favela não é vandalismo? Remover os moradores da Vila Autódromo não é vandalismo? Os vândalos não somos nós, são eles", referindo-se a Cabral e Paes.
A 1ª secretária da Regional RJ do ANDES-SN e diretora da ADUFF, Sônia Lúcio, garantiu que os docentes das instituições de ensino superior seguirão juntos, "nas ruas e nas lutas", do lado dos trabalhadores que não se renderam ao conformismo e à capitulação. "Seguiremos denunciando o fechamento das escolas e a precarização dos hospitais, exigindo os 10% do PIB para a educação já e lutando cotidianamente por uma educação pública, gratuita e de qualidade nesse país", afirmou.
O coordenador da executiva estadual da CSP-Conlutas, Luis Sérgio Ribeiro, também assegurou que os trabalhadores não irão sair das ruas e antecipou a articulação de uma nova greve geral para o dia 30 de agosto. "Essa é uma luta do conjunto da classe trabalhadora", finalizou.

"É ou não é piada de salão tem dinheiro para o Papa mas não tem para a Educação"

Matéria publicada em O Globo, no dia 11 de julho, revelou que os governos federal, estadual e a prefeitura do Rio terão um gasto milionário com a visita do Papa Francisco, durante a Jornada Mundial da Juventude. Somados, União, estado e município gastarão R$ 118 milhões durante a passagem do Papa pelo país. Só o governo federal desembolsará R$ 62 milhões, sendo R$ 30 milhões com ações de segurança e defesa. Estado e município darão R$ 28 milhões cada.