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Dezenas de milhares de pessoas vão às ruas no Rio em apoio aos professores em greve e pela Educação. Manifestações em apoio aos professores do Rio e contra a violência da polícia também ocorrer

08 de Outubro de 2013 às 21:48:06

A Avenida Rio Branco, no Centro do Rio voltou a ser tomada por uma multidão. Milhares de pessoas de diversos segmentos - trabalhadores, estudantes e demais entidades e representações da sociedade civil - abraçaram a causa dos professores da rede municipal, em greve há 60 dias. Eles seguiram a convocação do Sindicato dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ) e de outras entidades e foram às ruas em demonstração de apoio aos professores, que lutam por melhores estruturas no plano de carreira e condições de trabalho, contra a violência e opressão dos governos de Sérgio Cabral e Eduardo Paes e em defesa da Educação Pública.

Com vitalidade invejável e muita disposição para a luta, os professores puxaram a manifestação até a Cinelândia. O ANDES-SN e diversos docentes das Seções Sindicais da UFRJ, UFF e Unirio estiveram presentes na marcha. As pautas eram velhas conhecidas da esquerda: desmilitarização da polícia, crítica à imprensa comercial, mais investimentos para a Saúde e a Educação públicas, contra a violência de Estado. O grupo conhecido como Black Block fez a segurança de toda a passeata contra possíveis investidas da polícia militar. Nas ruas, um irrisório efetivo policial fazia a segurança de algumas agências bancárias ao longo da avenida.

Éramos muitos
O ato foi o maior desde as manifestações da chamada "jornada de junho". Estimativas do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (SEPE) dão conta de que mais de 50 mil pessoas participaram do protesto que saiu da Candelária em direção à Cinelândia.

O Jornal O Globo foi duramente criticado quando divulgou que apenas duas mil pessoas participavam do ato. Uma ensurdecedora vaia tomou conta de toda a avenida Rio Branco, que àquela altura estava completamente cheia de manifestantes.

Vera Nepomuceno, dirigente do Sepe-RJ, afirmou que os professores deram uma "belíssima aula de cidadania e democracia". Com a ausência de efetivo policial, os manifestantes cantaram: "Que coincidência, sem polícia não teve violência".


O Sepe-RJ encerrou o ato quando tomou conhecimento que um grupo grande de policiais estavam enfileirados na rua Evaristo da Veiga. Os Black Blocks fizeram uma barreira entre a PM e os manifestantes até que a maior parte conseguisse sair em segurança. A partir desse momento, houve confronto com a polícia.

As reivindicações
Os professores do Rio estão em greve desde o dia 8 de agosto. O governo manteve a proposta de reajuste salarial de 5% acima da inflação em 2014, seguido de 6% em maio de 2015 e 7,69% até 2023. A categoria, porém, decidiu continuar com a paralisação em assembleia no dia 4 de outubro, reivindicando que o primeiro reajuste seja efetuado até, no máximo, o início do ano que vem.
Os docentes também são contra o Plano de Carreira criado por Eduardo Paes sem dialogar com a categoria, e aprovado na Câmara sobre forte repressão da Polícia aos manifestantes contrários ao projeto, no dia 1 de outubro, que estabeleceu, entre outras coisas, reajuste de apenas 8% no salário ao passo que a carga horária dos professores aumentou em 30%.A pauta dos professores passa também pelo fim da lógica do professor polivalente e da meritocracia, o que estimula a aprovação automática. Há estimativas de que a greve conta com uma aderência de 81% das escolas da rede municipal.



Nova manifestação
Um novo ato já está sendo convocado através das redes sociais para a próxima terça-feira, dia 15 de outubro, com concentração na Candelária, a partir das 17h.

Apoios de outras cidades
Em outras capitais, como São Paulo, São Luiz e Porto Alegre, manifestantes também foram às ruas em solidariedade aos professores do Rio de Janeiro e contra a violênica da polícia militar e opressão do Estado. Em São Paulo, cerca de 250 pessoasprofessores, bancários em greve, estudantes, ocuparam a Avenida Paulista em apoio à luta dessa categoria. A faixa "Somos todos professores! Contra a repressão aos grevistas e lutadores, pela desmilitarização da polícia. Estado militar = Amarildos mortos" sintetizou as reivindicações do ato que também apoiava a ocupação da reitoria feita por estudantes na USP - que lutam pela democratização da Universidade - e a ocupação feita na Universidade de Campinas (Unicamp), em protesto contra a PM do Campus. A CSP-Conlutas, suas entidades filiadas e diversas outras organizações participaram da manifestação que saiu em passeata até a Praça da República.  



O porquê da repressão
No artigo "Movimento Todos pela Educação, Organizações Globo, Cabral, Paes e Costin:  â??amansarâ?? os professores com cassetetes para avançar contra a Escola Pública", divulgado no último dia 5, o professor da UFRJ, Roberto Leher, questiona os motivos que levam às reações de opressão policial e desqualificação político-ideológica do movimento promovido pelos professores do Rio.

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"O que leva o arco de forças que reúne Sergio Cabral, Eduardo Paes, seus secretários de educação, respectivamente, Wilson Risolia e Claudia Costin, a acionar o uso ilegal do aparato policial para reprimir bestialmente trabalhadores da educação em generosa luta em prol de uma carreira que valorize a dedicação ao fazer educacional, a qualificação e a progressão funcional ao longo da vida, possibilitando que a opção pelo trabalho na escola pública seja um estimulante projeto de vida?", indaga Leher.

O docente destaca que todos juntos, governos, lobby empresarial, corporações da mídia, desqualificam a greve com os interesses voltados o projeto de contrarreforma da educação pública. "O que significa para os profissionais da educação nova postergação no atendimento de suas verdadeiras reivindicações?  Significa uma opção por viver dramáticas privações econômicas, ausência de perspectivas para o seu futuro profissional, fadiga pelo trabalho com turmas lotadas e pela precária infraestrutura da rede, como evidenciado no relatório do Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro (situação igualmente grave na rede estadual), frustração pela imposição de cartilhas e pacotes educacionais que secam toda possibilidade da docência e interditam as suas vozes, jornadas extenuantes que invadem as noites, os finais de semana e mesmo as férias. Não é difícil concluir que a pauta é necessária para assegurar o real direito universal à educação pública!", explica, detalhando as diferenças entre o projeto de carreira reivindicado pelos professores e o proposto pelo governo.

Ao final, Leher aponta que é possível concluir que a greve dos profissionais da educação pública, iniciada em 8 de agosto de 2013, é um movimento em prol do futuro da escola pública. E ressalta: "Frente ao projeto em curso, o uso da violência extrema não surpreende, pois, onde houver um professor que se volte contra o pacote educacional que impõe o apartheid educacional, haverá uma voz a ser silenciada: pelos manuais do ABC pedagógico introduzidos por corporaçõ es e, sempre que necessário, pela violência policial. O que as forças do atraso não perceberam é que o clamor pela educação pública pulsa nas escolas e nas ruas e o projeto de conversão das escolas em â??organizaçõesâ?? dirigidas pelas corporações não passará!"

Leia aqui a íntegra do artigo.

*Com informações da Adufrj-SSind, Aduff-SSind e CSP-Conlutas


* Fotos: Luiz Fernando Nabuco / Aduff - SSind.