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Ação da PM na USP Leste tentou esconder à força problema de contaminação. Há mais de um mês em greve, estudantes, professores e funcionários não conhecem os reais riscos para a saú

25 de Outubro de 2013 às 02:01:01












Comunidade denuncia irresponsabilidade da direção, reitoria e governo na condução do problema. Há mais de um mês em greve, estudantes, professores e funcionários não conhecem os reais riscos para a saúde

A entrada da Tropa de Choque da Polícia Militar no campus Leste da Universidade de São Paulo (USP Leste) ignorou as preocupações da comunidade acadêmica quanto ao problema de contaminação do solo. A ação, que ocorreu no dia 19, obedeceu à ordem judicial que determinava a reintegração de posse do prédio da Diretoria da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), ocupado por estudantes desde o dia 2 de outubro.

Sem a implementação de medidas concretas, o caso de contaminação do campus continua sem solução. Há mais de um mês em greve, estudantes, professores e funcionários da unidade não receberam respostas sobre providências e esclarecimentos dos reais riscos para a saúde.

A estudante de gestão de políticas públicas Júlia Mafra relata uma série de ilegalidades que não podem ser vistas apenas como falhas administrativas.

"As nossas reivindicações eram as mesmas do movimento que era a solução das questões ambientais e afastamento imediato da direção, principalmente por causa do escândalo de 2011. A gente considera que a direção é culpada por trazer os 5 mil caminhões de terra contaminada. A gente não sabe de onde veio a terra, quem recebeu e quanto recebeu. Não teve processo de licitação e considerando que a universidade é pública, qualquer coisa que entre na universidade tem que passar por processo de licitação."

O professor de gestão de políticas públicas Pablo Ortellado afirma que apesar das reuniões para discutir a situação com o reitor, João Grandino Rodas, as ações não avançam.

"Está nas mãos da Reitoria da USP a solução para os nossos problemas. Não está mais no nível lá da USP Leste, já está no âmbito do reitor. Porque é ele quem tem que liberar os recursos, é ele quem tem que fazer a transferência da terra, é ele quem tem que fazer a execução das obras."

Erros consecutivos

No início do mês de setembro, estudantes, professores e funcionários foram surpreendidos com placas da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) que anunciavam a interdição de parte do campus "por conter contaminantes com risco à saúde". A Cetesb afirmou que a sinalização foi instalada sem a sua autorização e a direção do campus determinou a retirada da placa.

A área cercada recebeu no final de 2011 caminhões de terra cujo conteúdo estaria contaminado por substâncias cancerígenas. Segundo Pablo, o acesso a documentos confirmou que o depósito do material foi feito de maneira irregular pela direção do campus.

"Ela [a documentação] trouxe uma convicção maior de que o transporte irregular de terras que aconteceu em 2011 foi uma coisa muito criminosa. Foram depositadas no campus sem autorização da Cetesb, do Parque Ecológico, da própria universidade, centenas de caminhões de terras contaminadas que vieram de diversas origens de uma maneira completamente irregular, expondo uma comunidade de 5 mil pessoas a contaminação."



Autoridades blindadas

O professor de ciências da natureza Alberto Tufaile, descreve uma articulada rede que atua nos órgãos públicos do estado com o objetivo de blindar os responsáveis pelo problema.

"Existem problemas tanto dentro da universidade como em qualquer órgão estadual, qualquer momento que entra um órgão do estado. Nós acionamos o Ministério Publico Estadual, acionamos a Cetesb, fomos até a Assembleia Legislativa. Qualquer momento que envolve o governo do estado de São Paulo a coisa é escondida."

O problema da contaminação é anterior à instalação dos prédios. Como informa a página da unidade na internet, "o campus USP Leste foi construído numa área onde há concentração de gás metano devido ao descarte do desassoreamento do rio Tietê".

No último dia 10 de outubro, a Cetesb notificou a Superintendência do Espaço Físico (SEF) da Universidade de São Paulo dando prazo de 10 dias para apresentar uma readequação do Plano de Ação entregue pela universidade ­- no dia 2 de outubro. A companhia cobra o atendimento de onze exigências para remediação da área contaminada, como a definição sobre a implantação dos sistemas de extração de gases, a finalização das investigações do solo que recebeu material contaminado e remoção dessa terra.

Na proposta entregue pela USP, o prazo para cumprimento de todas as medidas vai até abril de 2014. A Cetesb exige que algumas etapas sejam antecipadas.

O professor Alberto alerta ainda que a situação de "abafamento" do caso tanto por parte da universidade como do governo do estado pode levar a não solução da questão.

"E não vai ser feito nada lá. Só para você ter uma ideia, a administração da USP falou que cada mil m³ de terra contaminada para ser retirada é R$ 1 milhão. E tem entre 4 a 40 mil. Eles não sabem o volume da terra contaminada, porque ninguém sabe da onde veio essa terra."

Contramão

A reintegração de posse no campus Leste não seguiu o exemplo da determinação dada pela Justiça à ocupação do prédio da reitoria da USP, na Cidade Universitária, zona oeste de São Paulo. Na semana passada (15), o desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) José Luiz Germano concedeu o prazo de 60 dias para que estudantes desocupem o local.

A decisão de Germano provocou surpresa, se considerado o histórico de mobilizações dentro da universidade. "A solução não me parece ser a desocupação imediata e forçada, como quer a USP e, por isso, concedo o prazo de 60 dias para a desocupação voluntária", justificou o desembargador.

Fonte: Radioagência NP