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Sem poder contratar novos professores, Unesp pode até fechar cursos, diz diretor

31 de Agosto de 2017 às 09:12:32

A falta de verbas para a contratação de professores nos 24 campi da Unesp podem resultar no fechamento de cursos, segundo o diretor Instituto de Geociências e Ciências Exatas do campus Rio Claro, Alexandre Perinotto. Os docentes que se aposentam não estão sendo substituídos, o que compromete a qualidade do ensino universitário. Hoje a universidade precisaria de pelo menos mais 850 professores.


Gastos x Arrecadação


Com 50 mil alunos, a Unesp gasta R$ 179 milhões por mês só pra folha de pagamento dos funcionários, sendo que o repasse do governo variou neste ano de R$ 158 a R$ 189 milhões.


O dinheiro enviado pelo governo para as universidades públicas do Estado de São Paulo, corresponde a uma parte do que é arrecadado com o ICMS. Como é um imposto sobre mercadorias e serviços, a arrecadação diminui muito em tempos de crise e automaticamente o valor do repasse também.


Desde 1995, a Unesp recebe 2,34% do ICMS. Para Perinotto, já faz tempo que o valor já não é mais suficiente. “De 1995 para cá a Unesp cresceu de forma bastante acentuada, cursos noturnos, atendimento a uma demanda social de estudantes de todo estado”, disse.


Há 22 anos, eram 24.395 alunos, somando graduação e pós-graduação, menos da metade do número atingido em 2017, que soma 52.678. A quantidade de cursos aumentou 60%, passando de 85 opções pra 136 na graduação e 62 pra 149 na pós, crescimento de 140%.


No restaurante universitário do campus, um aviso diz que, por cortes de orçamento, agora só vão ser servidos 300 pratos por dia. “Apenas almoço, não temos jantar. E o custo é caro em relação às outras universidade. [Se vier mais que 300 estudantes] não tem como servir”, afirmou o estudante de ciência da computação Edgar Pereira Souza.


Para o diretor, isso é somente uma parte das consequências.


“O problema, que é gravíssimo, é a falta que estamos tendo de possibilidade de contratar professor que se aposentam ou que morrem. Isso vai ter uma consequência, a curto e médio prazo, de até termos que correr o risco de fechar cursos por não ter recursos humanos”, ressaltou Perinotto.


Impacto nas aulas práticas


Na sala de aula, o impacto é grande. “A botânica está com um único técnico para todas as matérias, que são diversas, e essa técnica não tem condição de fazer monitoria para todas as aulas. Muitas matérias vão ficar sem prática”, disse a estudante de biologia Gabriela Dezotti.


Também falta dinheiro para estudos de campo, parte importante da formação. Por tradição, os alunos do segundo ano de biologia sempre visitam reservas florestais em Ubatuba e no Mato Grosso. Programas que a faculdade parou de bancar há dois anos.


“A biologia se só aplicada em sala de aula não é muito diferente de uma dinâmica de aula de ensino médio. O que faz diferença no ensino superior é essa prática que a gente está perdendo com os cortes na universidade”, explicou o estudante Ian Meirelles da Cunha.


Hoje, organizar uma viagem que não tem mais a mesma duração fica na mão deles. “A gente está fazendo rifas e vaquinhas online para poder ajudar”, disse o estudante João Marcos Neves.


Unesp de Araraquara


No campus de Araraquara a realidade é a mesma. Os alunos já perceberam a falta que o dinheiro faz. “A falta do restaurante universitário que fechou no final de 2014 para reformas”, disse a estudante Marília de Azevedo.


Na unidade, o principal impacto também está na falta de dinheiro para contratação de professores.


“Desde 2014, nós não contratamos servidores e docentes. Está cada vez mais difícil manter uma situação de uma universidade pública de qualidade”, afirmou o diretor da Faculdade de Ciências e letras da Unesp de Araraquara, Cláudio César de Paiva.


Muitos dizem que a solução seria privatizar as universidades e cobrar mensalidade dos alunos, mas estudantes e professores dizem que não. “Temos que fomentar a geração de receita própria para as universidades. Nós prestamos muitos serviços através de extensão universitária e é sempre gratuito. O estado nunca paga por essas ações que são desenvolvidas em todos os municípios do Estado de São Paulo”, disse Paiva.


 


 


Fonte: G1