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GREVE DOS BANCÁRIOS. Professor de Economia da UNICENTRO esclarece que os Bancos obtiveram, nos últimos 15 anos, aumento no lucro líquido em 2.289%. Ao mesmo tempo houve diminuição do número de bancários e r

24 de Setembro de 2012 às 01:44:09

A tentativa de redução do abismo entre banqueiros e bancários

Economista Amarildo Hersen

Professor do Departamento de Economia da Unicentro

O setor bancário no Brasil, nos últimos anos, está sendo marcado por seguidos movimentos de greve. Sonho de profissão há alguns anos atrás, na atualidade o que se percebe é uma insatisfação generalizada dos profissionais desse setor, acentuada por uma remuneração relativamente decrescente e sobrecarga de trabalho. Ao analisar os últimos 15 anos, tem-se que um escriturário iniciante sai de uma remuneração de aproximadamente quatro salários mínimos para algo em torno de dois salários mínimos, segundo dados da (FEEBMG).

Apesar de o salário mínimo nacional auferir aumento real, no período, o que poderia ilusoriamente sugerir que os salários do setor vem aumentando seu poder de compra, mesmo se aproximando do salário mínimo nacional, o que se verifica na prática são meras correções inflacionárias do salário do bancário e uma ampliação do abismo existente entre a remuneração dos bancários comparativamente aos banqueiros. Dados do Banco Central do Brasil (BACEN) evidenciam que a remuneração dos banqueiros, quando convertida em salários mínimos, também variou, porém no sentido contrário ao da remuneração dos funcionários do setor. Os 50 maiores bancos deixaram de ter um lucro correspondente a mais de 30 milhões de salários mínimos em 1997, passando a auferir lucro de aproximadamente 160 milhões de salários mínimos em 2011. Se a alegação de aumento do poder aquisitivo do salário mínimo  é convencionalmente utilizada como argumentação para inibir aumentos salariais da categoria, por que ela não vale para o aumento do lucro (em salários mínimos) dos banqueiros?



Tabela 01: Desempenho dos 50 maiores bancos instalados no Brasil




















































































Ano (A)

Lucro líquido

(em mil R$)
(B)

Número de agências
(C)

Número de funcionários
(D)

Salário mínimo nacional
(A/B)

Lucro líquido por agência

(em mil R$)
(A/C)

Lucro líquido por funcionário

(em mil R$)
(A/D)

Lucro líquido

(em milhares de salários mínimos)
1997 3.608.274 15.370 501.110 120,00 234,76 7,20 30.069
2000 11.174.183 16.103 501.983 151,00 693,92 22,26 74.001
2002 27.860.792 17.173 488.921 200,00 1.622,36 56,98 139.304
2005 40.769.494 17.847 512.218 300,00 2.284,39 79,59 135.898
2007 64.418.795 18.335 543.045 380,00 3.513,43 118,63 169.523
2011 86.212.166 21.139 620.176 545,00 4.078,35 139,01 158.187
â??% no período 2.289,29% 37,53% 23,76% - 1.637,24% 1.830,69% -

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Bacen e Portal Brasil.

A questão do aumento da produtividade do trabalho também merece ser investigada com mais atenção. Enquanto o lucro líquido dos 50 maiores bancos, nos últimos 15 anos, sofreu variação de aproximadamente 2300% (atingindo R$ 86,2 bilhões em 2011) e o lucro líquido por funcionário superou a casa dos 1800% (R$ 139 mil em 2011), a ampliação do número de agências e de funcionários obteve o singelo aumento de 37,53% e 23,76%, respectivamente. Tal fato induz a acreditar que a quantidade de atribuições do bancário aumentou exponencialmente, principalmente se considerarmos que as agências deixaram de ser arrecadadoras de impostos e recebedoras de depósitos bancários para oferecer contratos de crédito, aplicações financeiras e muitos outros serviços.

Apesar de inovações tecnológicas no setor, percebidas pela automatização de operações, em que parte destas passou a ser realizada pelos próprios clientes dos bancos - sistema de auto-atendimento -, é inegável o aceleramento do processo de trabalho, nesse segmento. Não é difícil de entender, portanto, a elevada incidência de Lesão por Esforço Repetitivo (LER) ou Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (DORT), em boa parte dos empregados no setor.

Na atual conjuntura, o movimento de greve acaba sendo, também, uma tentativa de resgatar a imagem, ofuscada, de uma profissão de desejo, por parte de nossos estudantes e futuros participantes do mercado de trabalho.