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Eleição para a reitoria da UFPR tem mais de uma chapa e expõe os problemas que os trabalhadores da universidade vivenciam. O quadro geral é de precarização dos trabalhadores do Hospital de Clínicas e do fun

09 de Outubro de 2012 às 01:27:07

Por Pedro Carrano, jornalista


Servidores na expectativa de melhores condições de trabalho e vida


Perto do centenário da mais antiga universidade brasileira, o quadro geral é de precarização dos trabalhadores do Hospital de Clínicas e do funcionalismo em geral, temas que devem pressionar a futura reitoria

O auditório do sétimo andar do Hospital de Clínicas (HC) estava cheio para o debate entre os candidatos à reitoria da UFPR - debate organizado pelo Sinditest, no dia 05 de outubro. Era o último espaço de discussão antes das eleições que ocorrem nos dias 08 e 09 do mesmo mês, em Palotina, e nos dias 09 e 10, em Curitiba.

O que estava em jogo é a eleição da pessoa que deve comandar a reitoria pelos próximos quatro anos. Pelos corredores do HC, o caminho até o local do debate já revela por si mesmo as condições de dificuldade que enfrentam os trabalhadores no seu dia a dia. A semana passada foi marcada por pelo menos três debates entre as duas chapas, organizados pelos sindicatos dos trabalhadores da universidade e também pelo movimento estudantil.

As chapas concorrentes são a Chapa 1, de oposição, "UFPR pra Valer", composta pelos professores Maria Tarcisa Silva Bega e Amadeu Bona Filho (http://www.ufprpravaler.com.br/), e a Chapa 2, da situação, conformada por Zaki Akel Sobrinho e Rogério Andrade Mulinari, (http://www.zakireitor.com.br/v1/).

Em resposta à assessoria de imprensa do Sinditest sobre qual seria a meta-síntese da sua campanha (durante debate ocorrido no campus Politécnico, no dia 03 de outubro) a candidata da Chapa 1, Tarcisa, comentou que trata-se da "valorização dos servidores e de reavivar as políticas estudantis", disse. Sua campanha se resume nos seguintes pontos, de acordo com ela: excelência acadêmica; infra-estrutura para professores; valorização dos técnico-administrativos; proposta política de assuntos estudantis.

O Atual reitor da UFPR, Zaki Akel Sobrinho, por sua vez, comentou que pretende "consolidar os avanços, com a infra-estrutura da Universidade concluída, e passando a investir em ensino, pesquisa e extensão", disse.

A chapa de Sobrinho utiliza o discurso eficientista. Com os dados de quem está por dentro da máquina burocrática, ressalta os programas executados, reivindicando a parceria com o governo federal nos programas, caso, por exemplo, do Reuni. Reivindica também que seu mandato orientou-se pelo diálogo com os servidores e sindicatos. Embora, ao mesmo tempo, classifique a greve de 2012 como um período que "prejudicou" a execução dos projetos. Ao que, neste ponto, a candidata da oposição retrucou dizendo que "período de greve é de discussão" acerca das questões de Universidade. Zaki falou também da execução de programas de tom progressista, como a parceria entre o RU e o fornecimento de produtos da reforma agrária.

A chapa de Tarcisa, por sua vez, reivindica mais democracia no espaço universitário, proximidade com os estudantes, em contraponto a uma política voltada para o mercado. "Precisamos da democracia de fato e não de discurso", avisou, em debate realizado no dia 03 de outubro, referindo-se à necessidade de maior participação dos estudantes em temas como cultura, além de maior decisão nos locais de trabalho.

Houve momentos abertos de "troca de socos" entre as duas chapas, assim como houve momentos em que os dois oponentes "se abraçavam": em dado momento, Zaki afirmava que ambos os candidatos estiveram juntos, como no episódio de 2005, quando a reitoria acionou a Polícia Militar contra a ocupação promovida à época pelo Movimento Estudantil.

Os problemas concretos que os servidores enfrentam

Ao longo dos debates feitos na semana passada na UFPR, o assédio nos locais de trabalho foi reconhecido pelas duas chapas como uma situação existente no Hospital de Clínicas. A candidata Tarcisa, da Chapa 1, critica que não houve operação da atual reitoria sobre isso, benevolente com este tipo de prática. Ao passo que o candidato Zaki, da Chapa 2, afirmou que há quadros de chefia que praticam assédio e apóiam a oposição.

A situação se posiciona, em detrimento de uma eleição direta de chefias nos locais de trabalho, pela "indicação de nomes competentes". Esse foi um dos cavalos de batalha do debate do dia 05, entre os dois candidatos, uma vez que Tarcisa colocou-se a favor das eleições diretas. "A LDB de 1996 permite experimentos pedagógicos", ressaltou a candidata.

Dos problemas mais graves expostos no debate do dia 05 de outubro, no HC, foi abordada a questão do quadro da Funpar, que hoje possui 1093 trabalhadores, que não têm garantias e direitos quanto ao seu futuro, entre os quais a aposentadoria pública. A próxima gestão da reitoria terá que se posicionar frente a este tema, sobretudo com a pressão vinda do Ministério Público do Trabalho (MPT). Não foi citado no debate, por exemplo, a situação de uma funcionária da Funpar demitida contra sua vontade, ainda em 2012.

Em pergunta formulada pela assessoria de imprensa do Sinditest, sobre qual a avaliação dos candidatos acerca das condições de trabalho dos servidores técnico-administrativos, o candidato da Chapa 2, Zaki Akel Sobrinho, avaliou que houve avanços para as condições de vida desses trabalhadores, como a conquista das 30 horas e insalubridade", e citou também a política de qualificação por meio de cursos e programas de mestrado.

Já a candidata de oposição afirmou que "as condições de trabalho são sub-humanas no Hospital de Clínicas, os funcionários fazem plantão dormindo em restos de colchão. Há fragilidade e graus de incerteza nas questões da Funpar e EBSERH", afirmou. Neste último tópico, a luta dos servidores garantiu que ambas as chapas proponham manter a resolução do Coun de não aceitar a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) no interior da UFPR, algo que poderá ser monitorado pelos servidores na próxima gestão.

No que se refere à política de privatizações no interior da UFPR, um caso sempre colocado em discussão foi a parceria promovida pela reitoria da UFPR e o banco espanhol Santander, para confeccionar crachás e catracas dentro da UFPR. "Se não fosse a denúncia feita por militantes da nossa base ao Ministério Público, estaríamos hoje usando um crachá patrocinado pelo Santander", informa nota da direção do Sinditest sobre as eleições. Neste caso, durante o debate, o atual reitor mostrou que cedeu à pressão da comunidade acadêmica contrária à medida. "Voltamos atrás", declarou, durante o debate do dia 03 de outubro, fazendo a ressalva: "mas não temos medo de falar com o empresariado". A candidata da Chapa 1, por sua vez, declarou-se contra as privatizações.

Direção do Sinditest avalia o resultado do debate: Vamos cobrar!

A direção do Sinditest avaliou que o debate do dia 05 foi importante para a categoria dos técnico-administrativos comparar suas exigências com o que é proposto pelas duas chapas, levando a um exercício de cobrança necessário no próximo período.

"Nem sempre a pauta da reitoria vem de encontro com a pauta dos técnico-administrativos. Usualmente eles têm lugar mais na execução do que no planejamento da condução dos trâmites dentro da universidade. Esse debate faz com que os candidatos revejam pontos que de algum modo não estavam indicados", analisa Judit Gomes, da direção do Sinditest.

A avaliação de Márcio Palmares, também da direção do sindicato, sobre o debate é de que ambas as candidaturas não contemplam a pauta e as lutas dos servidores, em que pese possuírem características diferenciadas, como Palmares expõe abaixo. No caso do debate do dia 05, Palmares avalia que houve um equívoco grande na compreensão em relação à jornada de trabalho de 30 horas:

"Em particular, a posição da professora Tarcisa em relação a pauta das 30 horas é equivocada. Na realidade, a luta pela conquista da flexibilização da jornada tem uma legalidade garantida pela luta do movimento grevista. De maneira alguma foi uma benfeitoria da gestão Zaki-Mulinari, pelo contrário, foi uma luta duríssima do movimento grevista de conquista da flexibilização da jornada. A professora Tarcisa está equivocada ao dizer que há riscos para os servidores em relação à adesão à flexibilização da jornada", diz.

O dirigente classifica, por outro lado, a atual gestão dona de um perfil nitidamente conservador. "A gestão Zaki-Malunari é uma gestão tradicional, tipicamente ligada ao empresariado, que adota fielmente as orientações passadas pelo governo federal, principalmente quando prejudicam os servidores", afirma.

Fonte: http://www.sinditest.org.br/portal/geral/eleicao-para-a-reitoria-expoe-os-problemas-que-os-trabalhadores-da-universidade-vivenciam/