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Sem Estado, sem profissão: a revolução 4.0

20 de Fevereiro de 2017 às 13:23:40

É possível que, pelos menos para alguns que apoiaram o golpe, a ficha já esteja caindo. Já não deveria restar mais dúvidas de que, mais uma vez, o apelo ao “fim da corrupção” serviu, por um lado, para proteger a própria corrupção e, por outro, promover mais bem-estar para quem já o tinha. O fisiologismo, base da corrupção, é regra declarada no governo Temer (veja aqui).


Na outra ponta do golpe, estiveram aqueles empresários que querem carona nas cadeias produtivas internacionais e, como estamos vendo, não se impressionam de fato com governos corruptos e sim em garantir que tais governos, mesmo que sejam corruptos, defendam seus interesses (as reformas que não saíram com Dilma).


Tudo indica que a conta vai ser paga, como sempre ocorre com os golpes, pelo andar de baixo: nós. Os motivos do golpe, portanto, vão ficando mais transparentes.


Que sentido devem ter as políticas públicas sociais se não o de promover o bem público e o de todas as pessoas? O que nos faz acreditar que, de fato, invertendo a lógica e  colocando o bem estar das pessoas como dependente da “saúde do mercado”, isso nos  levaria a um futuro melhor? Ou seja, a ideia alardeada de que a economia indo bem, todos irão bem.


Até agora, só empresários estão comemorando a “nova” realidade econômica pós golpe. Será que vamos ter que ouvir, de novo, que “o bolo precisa crescer antes de ser dividido”, como dizia a ditadura militar? A negociação de salários nos últimos meses caiu abaixo de sua linha mais recente. Efeito da crise local? Culpa da Dilma? Mas, não é diferente nos Estados Unidos:



“Embora a economia dos EUA tenha crescido em média 2,1% anuais no pós-crise de 2008/2009 e haja pleno emprego, a renda dos salários caiu bastante.”



Empresários e mídia divulgam a ideia de que promovendo o bem estar do mercado haveria empregos e bem estar social. O objetivo é recuperar empregos, dizem. Uma lógica de sentido comum, mas que a prática não concorda, ou melhor dizendo, reserva apenas para alguns.


Os empresários, hoje, para garantir seus lucros, cada vez mais colocam os trabalhadores em uma encruzilhada: ou fazem o que eles querem e pelo valor que querem, ou então, “não brincam mais”: fecham suas filiais e vão para outros países. Detestam regulação – a não ser daquela feita por “agências” que eles mesmos dominam.


O fato é que com a inversão de prioridades, colocando as pessoas em segundo plano, quem perde são as próprias pessoas, como se está vendo permanentemente na geração das políticas sociais e econômicas pós golpe, pois, não é automático que a riqueza se distribua a partir do empenho de cada um.



“Os seis homens mais ricos do Brasil concentram a mesma riqueza que toda a metade mais pobre da população do país (mais de 100 milhões de brasileiros), segundo o relatório da ONG Oxfam divulgado nesta semana.”



Esta conversa fiada que se ouve todo dia na mídia de que com as reformas haverá uma melhora da economia e com isso teremos empregos, é muito relativa. Sabemos que os planos estratégicos das empresas apontam em outra direção: robotização. Com a chamada revolução industrial de quarta geração, desaparecerão milhares de postos de trabalho ou serão precarizados. A robotização (inclusive do setor de serviços) já é um fato do nosso dia-a-dia.


As máquinas inteligentes deveriam vir para aumentar o ócio e o bem estar de toda a humanidade e não para enricar meia dúzia de milionários. Uma diminuição geral do número de horas trabalhadas, deveria aumentar as chances de trabalho para todos, ao mesmo tempo que uma melhor aplicação do tempo de vida. Os neoliberais, neste ponto, dizem que “não há almoço grátis”. De fato, não há, pois a cozinha foi invadida por banqueiros que almoçam grátis todos com os dias os elevados juros da dívida pública. Não sobra para mais ninguém.


Tudo na nossa sociedade é colocado a serviço do aumento do lucro. E o lucro, exige menos postos de trabalho e precarização. Um artigo na Folha de São Paulo resume o cenário, apontando as novas tecnologias que compõem a nova revolução 4.0, ou seja, a revolução das máquinas inteligentes:


Segundo o articulista, Pedro Luis Passos:



“Os americanos a chamam de manufatura avançada ou manufatura inteligente, enquanto os alemães preferem a denominação indústria 4.0.”



Ele considera que é uma transformação que “reside na inteligência que as máquinas passarão a ter” e que altera a organização das cadeias de suprimento, a produção e a comercialização e revoluciona a indústria, os serviços entre outros setores.



“A nova indústria se caracteriza pela integração de tecnologias já conhecidas, como inteligência artificial, impressão 3D, big data, computação em nuvem, internet das coisas e realidade ampliada, entre outras. O diálogo contínuo entre tais vetores vai dotar as fábricas de um grau inédito de eficácia e autonomia.”



Leia íntegra do artigo aqui.


Os lucros serão maximizados – ou terão sua queda detida, pelo menos – com custos menores, mais eficiência e elevação da produtividade.


Mas o que é mesmo extraordinário é que o articulista tivesse examinado as consequências destes avanços sem uma palavra a respeito do que acontecerá com os postos de trabalho e seus atuais ocupantes: as consequências sociais para os trabalhadores – ou o que se chama de desemprego estrutural.


Mas isso não é tudo. Se por um lado, estamos precarizando e eliminando postos de trabalho, por outro, a ganância também exige que o Estado seja mínimo e se desentenda do cidadão: tudo que possa levar a cobrar mais impostos dos empresários e dos mais ricos deve ser eliminado e transformado em mais serviços que geram lucro: previdência, saúde, educação, segurança etc. O Estado não pode onerar as cadeias produtivas com mais impostos ou perde-se “competitividade internacional” – dizem. Leia-se: não se realizam os lucros esperados. Precarização  do trabalho acompanhada de isenção fiscal é o sonho dos empresários. Na briga entre capitalistas internacionais, o Estado é sequestrado para criar “competitividade” para os empresários. Como “um favor”, estes proverão empregos precarizados.


Tudo que vise proteger o trabalhador deve ser eliminado para que ele fique à mercê das necessidades do mercado e seja obrigado a aceitar as condições dos empresários, postas por estes unilateralmente. Daí a necessidade de retirar os sindicatos da negociação salarial. Alguma proteção só para a extrema pobreza para que a violência não coloque em risco os próprios investimentos.


A promessa de um futuro melhor a partir da melhoria da economia, se desfaz com o ritmo da revolução industrial que apaga profissões inteiras e precariza o trabalho, por um lado e, por outro, restringe o alcance do Estado nas políticas sociais. É o capitalismo contorcendo-se nas suas contradições, para viabilizar taxas de acumulação de riqueza crescentes para alguns.


Sem trabalho e sem Estado, resta o indivíduo sozinho, lutando para dar conta da vida; resta a política social do “vire-se”.


Cabe ao trabalhador assumir seus próprios interesses e deixar de esperar que os “de cima” possam, de fato, interessar-se pelos “de baixo”. Esgotou-se o período da crença na conciliação de classes proposta pelo PT – estamos em plena luta de classes aberta, e quem está na ofensiva são eles.


 


 


Fonte: Avaliação Educacional