Artigos

A história pouco conhecida dos aborígenes na Austrália. Orgulho de não ter desaparecido totalmente apesar do genocídio do colonialismo britânico

26 de Novembro de 2011 às 21:05:31

Fonte: Pravda

Havana (Prensa Latina) Em 1901, Austrália se erigiu em federação e entrou em vigor a Constituição da Comunidade Britânica de Nações, a qual desconheceu em seus valores fundamentais os direitos dos aborígines, os povoadores autóctones da muitas vezes chamada Ilha-continente.

Desde 1788, a colonização britânica despojou de suas terras a quem no decorrer de milhares de anos e distribuídos em mais de 400 povos ou tribos viveram como caçadores e coletores, sem escritura própria, baseados na transmissão oral da história e da cultura.

A chegada dos colonizadores ao longo de todo o século XVIII marginalizou os povos originários, localizou-os em inóspitas regiões do enorme território australiano e fez descer a cifra de aborígines de quase um milhão a menos de 200 mil.

Alguns historiadores como Henry Reinolds assinalam que as mortes violentas por despojo de terras, doenças e fome são estimadas entre 15 e 20 mil, mas outros calculam que, entre 1788 e 1990, a população aborígine foi reduzida em quase 90 por cento.

Na atualidade sobrevive menos da metade dos 400 povos originários, com exemplos de extinção absoluta como ocorreu na Tasmânia, um dos atuais estados australianos.

Os escassos documentos confirmam que na denominada Guerra Negra, a partir de 1830, foram massacrados mais de seis mil originários do grupo Palawah e que a última sobrevivente, Truganini, morreu em 1876.

George Robinson, um defensor dos direitos aborígines, aportou tais dados e qualificou de genocídio o cometido pelos colonialistas nessa ilha.

Somente em 2008, as autoridades australianas reconheceram esses "excessos" e pediram perdão por "arrebatar-lhes as terras".

CONSTANTE LUTA POR SEUS DIREITOS

Relegados aos lugares mais apartados da ilha continente, os aborígines mantiveram uma dura luta contra os colonialistas, com figuras e líderes como Pemulway, Yagan e Windrayne, considerados os primeiros heróis.

Numa briga constante por seus direitos, os povoadores autóctones australianos somente conseguiram que a partir dos anos de 1940 se lhes melhorassem algumas condições de vida nas reservas, conseguiram legalizar seus votos eleitorais e constituíram várias organizações sociais como Survival e Liga pelo Progresso dos Aborígines.

No entanto, desde o início do século XX, continuaram em sua maioria marginalizados em reservas, controlados em seus movimentos e com trabalhos garantidos em explorações agrícolas mas sem receberem salários.

A falta de documentação que ilustra tais dados, os "segredos" guardados oficialmente, não permite avaliar com exatidão as expectativas de vida dos aborígines, sua falta de acesso ao sistema de saúde e os níveis de participação social.

ATUALIDADE

Tanto drama acumulado, inclusive exposto na presente cinematografia e literatura australiana, levaram a que em 2001, o então primeiro-ministro John Howard propusesse uma Moção de Reconciliação ao Parlamento.

No texto descreveu-se "o maltrato para os indígenas como o capítulo mais sombrio da história da Austrália".

Desde então, algumas condições- sobretudo sociais- mudaram de algum modo.

Ao menos 32 por cento dos aborígines australianos vivem nas principais cidades, mas o resto continua em difícil situação em regiões continentais, territórios insulares e regiões desérticas do interior.

Cifras atualizadas estimam em cerca de 400 mil os herdeiros dos povos autóctones, a maioria misturados racialmente e a duras penas conservam sua cultura e história tradicional.

Os aborígines australianos, quase desconhecidos a nível mundial, se aferram a um de seus poucos símbolos: o Yidaki, uma espécie de trombeta de madeira, famoso internacionalmente em interpretações de rock, pop e jazz.

Fica-lhes, ao dizer de especialistas, o orgulho de não ter desaparecido totalmente apesar do genocídio do colonialismo britânico.